Quase um ano após o assassinato brutal de Jerder Pereira da Cruz, linchado por populares em Paço do Lumiar, a família segue abandonada e a Justiça maranhense continua de braços cruzados. O caso, que deveria estar entre as prioridades do sistema de segurança, transformou-se em um exemplo de omissão, lentidão e indiferença estatal.
O crime que chocou, mas não mobilizou
Na madrugada de 28 de outubro de 2024, Jerder, em surto psicótico, correu nu pelas ruas e entrou em uma igreja evangélica. Ali, foi espancado sem piedade, amarrado e exposto à humilhação pública. Chegou ao Socorrão II em estado deplorável e morreu após três paradas cardiorrespiratórias.
Os vídeos que circularam escancaram a barbárie, mas, apesar da repercussão, ninguém foi preso ou indiciado até hoje. O caso foi tratado pela Delegacia do Maiobão como “morte a esclarecer” e segue assim, indefinidamente.
Justiça burocrática e autoridades omissas?
A viúva, Fabiana Louzeiro, tentou acompanhar as investigações pedindo habilitação como assistente de acusação. No entanto, a juíza Ana Gabriela Costa Everton, da 2ª Central das Garantias de São Luís, indeferiu o pedido sob alegação de que só poderia atuar após oferecimento de denúncia — denúncia esta que até hoje não veio.
Antes disso, o Ministério Público, na pessoa da promotora Marinete Ferreira Silva Avelar, já havia se posicionado pelo indeferimento da participação da família, limitando-se a aceitar contribuições “dentro dos limites da legalidade”.
Enquanto isso, na 2ª Vara de Paço do Lumiar, o juiz José Ribamar Serra declarou extinta a punibilidade de Jerder no processo que apurava suposto dano qualificado na igreja — arquivando o inquérito como se a vítima fosse o criminoso.
A delegada do caso
À frente das investigações está a delegada da Polícia Civil do Maiobão, Dra. Maria Eunice, responsável pelo inquérito que apura a morte de Jerder. Mesmo com diligências registradas e ofícios encaminhados, o inquérito segue arrastado, sem nomes, sem indiciamentos e sem respostas à altura da crueldade cometida. Sem aceitar indagações ou ser contrariada, estilo conhecido da preposta da Policia Civil, o caso permanece inerte.
Uma família destroçada
Fabiana chora a perda de quem chamava de marido, agora sozinha para criar três filhos: um menino autista que não entende por que o pai nunca mais voltou; outro que ainda espera pelo abraço; e uma menina que nunca terá a chance de conhecer o rosto paterno.

“Me entregaram meu marido todo quebrado, sem dentes, cheio de hematomas. Isso não é justiça, é crueldade”, denuncia a viúva, que agora exige não apenas a responsabilização dos linchadores, mas também explicações de quem deveria ter agido e não agiu.
Exigência de celeridade
A sociedade maranhense exige que o Ministério Público, o Tribunal de Justiça do Maranhão e a Delegacia do Maiobão, sob comando da delegada responsável Dra. Maria Eunice, dêem uma resposta urgente. Não é mais possível aceitar a morosidade que revitimiza uma família já marcada pela dor.