Na Roma antiga, o império desmoronou por dentro. A história mostra que não foram os inimigos externos, mas os próprios romanos — divididos por vaidade, disputa de poder e fanatismo — que cavaram sua ruína. No Brasil de hoje, o paralelismo é assustador: em pleno 2025, brasileiros brigam entre si por conta de uma medida econômica de Donald Trump contra a China e o Brasil — como se fosse uma questão nacional, como se o tarifaço fosse uma ofensa pessoal, como se defender os interesses dos Estados Unidos fosse um ato de patriotismo.
Trump impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alegando “perseguição” a Bolsonaro. Lula respondeu com firmeza, prometendo retaliação e invocando a Lei de Reciprocidade Comercial. Mas o problema não está apenas na diplomacia — está na trincheira digital onde brasileiros, completamente alienados, travam batalhas ideológicas defendendo a economia dos EUA como se estivessem defendendo a própria pátria. A crítica virou idolatria. A análise, torcida. E o pensamento crítico, um item em falta na prateleira do debate.
Como diria Kant, pensar por si é o que nos torna livres. Mas aqui, a liberdade cede espaço à submissão simbólica. Gritamos “Brasil acima de tudo”, mas aplaudimos tarifas que prejudicam o Brasil — só porque foram lançadas por um aliado do nosso político de estimação. É a identidade nacional colocada em liquidação, vendida a preço de curtida. E como Roma, que caiu enquanto os cidadãos se digladiavam por poder, o Brasil também pode ruir — não por causa de inimigos, mas por excesso de autoengano.
A queda de Roma não foi um evento súbito nem causado apenas por inimigos externos, mas sim um longo processo histórico, com fatores internos e externos combinados. A ideia de que “Roma caiu por dentro” é uma metáfora poderosa, usada por filósofos e historiadores para expressar a corrosão política, moral e institucional que enfraqueceu o império antes mesmo das invasões bárbaras.
Filósofos como Edward Gibbon (autor de O Declínio e Queda do Império Romano) argumentam que a perda de virtude pública e o crescimento do fanatismo religioso também minaram a coesão social romana. Para ele, o império “morreu de dentro para fora”.
Já autores contemporâneos veem a queda como um fenômeno complexo e inevitável de um império globalizado demais para se sustentar. Ou seja: nem só moralismo, nem só invasão, mas um colapso sistêmico.
