Em São José de Ribamar, onde o colapso da infraestrutura é só o reflexo do colapso político e o povo é deixado à própria sorte, o vereador Andrey Villela resolveu inovar: segundo ele, só pode criticar vereador quem também for vereador. É a democracia às avessas, aquela onde a participação popular é aceita desde que fique em silêncio. Se Platão dizia que “o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus”, em Ribamar o castigo é ser governado por quem tem medo da opinião dos governados.
A declaração é tão infeliz quanto simbólica. Num município onde o abandono já virou matéria repetida — com ruas esburacadas, serviços sucateados e uma Câmara muitas vezes de costas para a população —, ouvir que só os “iguais” podem falar é o retrato de uma política que não serve, apenas se serve. O filósofo Diógenes, que andava com uma lanterna em pleno dia procurando um homem honesto, hoje precisaria de holofotes industriais em Ribamar. E mesmo assim, talvez se frustrasse.
O vereador parece esquecer que quem sustenta o seu salário não é outro vereador — é o povo. Aquele mesmo povo que acorda às 5h, enfrenta ônibus lotado e ainda tem que ouvir calado enquanto o político o manda “ficar no seu lugar”.
