Por Dr. Raimundo Castro
O Sampaio Corrêa Futebol Clube vive um dos momentos mais delicados de sua história recente. O estatuto em vigência, que deveria ser instrumento de transparência, democracia e responsabilidade na condução da instituição, tornou-se alvo de duras críticas por parte da torcida e de especialistas. O documento, longe de assegurar participação ampla e controle social, concentra poderes excessivos na figura do presidente, abrindo espaço para arbitrariedades e fragilizando os princípios da gestão esportiva moderna.
Entre os pontos mais polêmicos está a prerrogativa concedida ao dirigente máximo de decidir, de forma unilateral, sobre a constituição de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Uma deliberação dessa magnitude, que afeta diretamente o patrimônio, a identidade e o futuro do clube, é hoje prerrogativa exclusiva do presidente, sem necessidade de nova consulta à Assembleia Geral. Tal dispositivo contraria o Código Civil, a Lei da SAF e os princípios constitucionais da democracia interna, revelando um traço autoritário que ameaça a própria essência associativa do Sampaio Corrêa.
Outro aspecto criticado é o processo eleitoral previsto no estatuto vigente, que não garante a transparência e a lisura necessárias. O voto pode ser realizado de forma pública ou até por aclamação, um mecanismo que abre espaço para pressões, constrangimentos e retaliações contra associados. A ausência de uma comissão eleitoral independente e de regras claras de apuração torna o pleito vulnerável a contestações e enfraquece a legitimidade democrática do clube.
No campo da gestão financeira, as fragilidades são igualmente evidentes. O estatuto atual não impõe limites concretos ao endividamento, não prevê reservas obrigatórias, nem exige auditorias independentes periódicas. Essa lacuna deixa o clube exposto a riscos de má administração e dificulta a fiscalização por parte dos sócios. A falta de mecanismos de prestação de contas efetiva compromete a transparência e contraria as boas práticas de governança esportiva já consolidadas em nível nacional.
Também chama a atenção o silêncio do estatuto vigente em relação à proteção dos atletas da base e do futebol feminino. Não há dispositivos que garantam segurança, acompanhamento educacional ou igualdade de condições para as diferentes categorias. Essa omissão vai de encontro ao que estabelecem a Lei Geral do Esporte e o Estatuto da Criança e do Adolescente, deixando de lado a responsabilidade social que deveria orientar uma agremiação centenária e de relevância cultural para o Maranhão.
E, como se não bastasse tudo isso, a venda do Centro de Treinamento José Carlos Macieira, maior patrimônio físico e simbólico do clube, sem qualquer explicação plausível, foi o estopim da crise. Mais de 6 milhões de reais foram arrecadados com a transação, mas até hoje não houve uma prestação de contas clara sobre o destino do dinheiro. Para os torcedores, trata-se de um atentado contra a história e a memória do Sampaio Corrêa, um golpe irreparável na confiança da comunidade tricolor. Em síntese, o estatuto que hoje rege o Sampaio Corrêa é visto pela torcida como um documento ultrapassado, centralizador e incompatível com as exigências contemporâneas de transparência, democracia interna e responsabilidade fiscal. Em vez de proteger o patrimônio, assegurar a participação dos sócios e fortalecer a identidade do clube, ele perpetua um modelo de poder concentrado que ameaça o futuro da instituição.

Vários outdoors foram espalhados por pontos estratégicos da cidade, denunciando a crise institucional vivida pelo Sampaio Corrêa e exigindo providências imediatas do Ministério Público. As mensagens, em letras garrafais, expõem a venda do Centro de Treinamento sem transparência, a ausência de prestação de contas e o autoritarismo do estatuto em vigência. A ação ganhou repercussão popular e simboliza o clamor de uma torcida que não aceita ver o clube ser tratado como propriedade privada. Unidos pelo sentimento de justiça, os tricolores pedem a intervenção dos órgãos competentes para que o patrimônio e a dignidade do Universo Tricolor sejam preservados. Não à toa, cresce o clamor popular para que o Ministério Público e a Justiça intervenham, afastem a Diretoria e indiquem um interventor para proceder com uma auditoria completa, revisar o estatuto e devolver ao Universo Tricolor o direito de decidir os rumos do seu próprio clube.
Sobre o autor

Professor Titular do Departamento de Matemática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Campus São Luís – Monte Castelo; Professor Permanente dos programas de pós-graduação stricto sensu, Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT/IFMA) e do Doutorado em Ensino da Rede Nordeste de Ensino (RENOEN), vinculado à Universidade Estadual do Maranhão (UEMA); Vice-Diretor da Sociedade Brasileira de Educação Matemática, Regional Maranhão (SBEM/MA), membro da Rede Ibero-Americana de Pesquisadores e Acadêmicos (REDE IPA), da Rede Latino-Americana de Etnomatemática (RELAET) e colaborador da Academia Maranhense de Ciências (AMC). Torcedor apaixonado do Sampaio Corrêa Futebol Clube.