Parece que Gusttavo Lima encontrou um jeito lucrativo de fazer turnês: mirar nas pequenas cidades e garantir um cachê que faz qualquer orçamento cultural parecer troco. Em Campo Verde, Mato Grosso, o cantor sertanejo conseguiu a proeza de embolsar R$ 1,1 milhão para um único show, o equivalente a mais de 50% do orçamento anual destinado à cultura da cidade. Com 44 mil habitantes, a cidade literalmente pagou R$ 24,67 por cabeça para ver o “Embaixador” ao vivo. Nada mal para Gusttavo, que parece estar fazendo mais turnê nas planilhas de orçamento público do que nos palcos.
Mas vamos falar sério: quem sai ganhando com esse tipo de contrato? As cidades? O público? Ou só o sertanejo de ouro? Com metade do orçamento cultural engolido em uma noite, Campo Verde teria opções melhores para investir na sua comunidade: fortalecer a cena local, criar projetos culturais sustentáveis e, quem sabe, até garantir que a cultura fosse vivida o ano todo — e não apenas em algumas horas de palco. É claro que Gusttavo Lima tem seu público, mas por esse preço, a cidade merecia ao menos uma aula de canto de brinde.
No final das contas, é irônico ver artistas como Gusttavo Lima, que adoram gritar aos quatro ventos contra leis de incentivo à cultura e qualquer subsídio que beneficie a arte de forma mais inclusiva, faturando alto com contratos que literalmente depenam cidades pequenas sem o menor escrúpulo. Enquanto vomitam “decência” e se colocam como defensores da “moral”, são os primeiros a lucrar com dinheiro público, deixando prefeitos em cheque e orçamentos culturais no vermelho. O verdadeiro sertanejo de raiz teria vergonha de uma atitude dessas. Talvez seja hora de repensar: esses shows valem mesmo o que custam ou só alimentam egos milionários às custas das comunidades mais vulneráveis?