A vitória do Brasil no Oscar 2025 com Ainda Estou Aqui deveria ser motivo de orgulho nacional. O filme, que resgata a história do desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar, foi celebrado internacionalmente, mas ignorado por figuras da direita bolsonarista. Enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos) costuma exaltar conquistas esportivas e culturais, seu silêncio diante do feito histórico escancara um incômodo ideológico. O mesmo comportamento foi seguido por Romeu Zema (Novo), Ratinho Júnior (PSD) e Jorginho Melo (PL), que sequer mencionaram a premiação.
Esse episódio escancara de vez a seletividade no reconhecimento de feitos nacionais. A Rosas de Ouro, campeã do Carnaval paulista, recebeu os parabéns de Tarcísio, mas a vitória do cinema brasileiro foi tratada como um assunto menor. A razão? O filme expõe um passado que muitos aliados de Bolsonaro tentam relativizar ou apagar. Essa postura reflete uma “idiossincrasia antropocêntrica” própria dos bolsonaristas: eles enaltecem símbolos que reforçam sua narrativa política, mas ignoram qualquer fato que confronte seu revisionismo histórico em uma espécie de negação da realidade.
A reação da extrema-direita foi ainda mais agressiva. Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, criticou duramente o filme e atacou Eunice Paiva, viúva do ex-deputado desaparecido. Em tom ameaçador, chegou a dizer que o ministro Alexandre de Moraes “irá pagar” pelo que chamou de “maldades”. O desprezo pela história e a escalada no discurso autoritário demonstram como o bolsonarismo segue fiel às suas origens: a defesa de um regime que perseguiu e silenciou opositores.
Enquanto alguns bolsonaristas preferiram o silêncio, Ronaldo Caiado (União Brasil) aplaudiu o filme, destoando da extrema-direita. A postura de Tarcísio e aliados não surpreende, mas reforça um alerta: há um esforço contínuo para minimizar crimes da ditadura e reescrever a história sob a ótica dos que desejam manter o autoritarismo vivo na memória nacional. Afinal, para eles, só vale celebrar o que encaixa em sua narrativa ideológica.