Flávia Berthier, vereadora de São Luís pelo Partido Liberal (PL), construiu sua imagem política sobre os pilares do conservadorismo, dos valores cristãos e da defesa da família tradicional. Em seu discurso de posse, afirmou categoricamente: “A minha ideologia é Deus, Pátria, Família e Liberdade”. No entanto, ao longo do mandato, suas atitudes têm revelado contradições gritantes que colocam em xeque a coerência entre o que prega e o que pratica.
Um dos pontos mais notórios de incoerência diz respeito justamente ao pilar da “família”, que ela tanto exalta publicamente. Enquanto utiliza a tribuna para se posicionar como defensora da moralidade e da estrutura familiar tradicional, nos bastidores chama atenção o fato de supostamente evitar apresentar o próprio marido à sociedade, como se houvesse um constrangimento que não combina com o perfil combativo e orgulhoso que projeta nas redes sociais e na Câmara. A ausência do companheiro em eventos públicos, solenidades e registros oficiais alimenta comentários de que Berthier tenta manter sua vida pessoal sob um manto de sigilo que contradiz sua retórica de exaltação familiar.
Essa postura reforça as dúvidas sobre a autenticidade de seu discurso. Como pode alguém que se diz “fiel defensora da família” omitir a figura central da sua própria? Essa omissão, ainda que pessoal, fere o princípio de transparência que ela exige de seus adversários.
Além disso, sua atuação no parlamento tem sido marcada por declarações e votos que excluem minorias, especialmente a comunidade LGBTQIA+. Ao votar contra a criação de uma equipe técnica para o Conselho Municipal LGBTQIA+, Berthier justificou sua posição afirmando que os direitos já estão assegurados na legislação, negando a existência de desigualdades concretas e específicas. Para críticos, a fala demonstra falta de empatia e compromisso com a pluralidade da sociedade ludovicense.
Por fim, apesar de promover o diálogo em seus discursos, sua atuação na prática tem sido combativa e, por vezes, agressiva. Em resposta a críticas feitas ao ex-presidente Jair Bolsonaro, chegou a dizer: “Lave a sua boca para falar do nosso presidente”, em clara demonstração de intolerância com posicionamentos divergentes — o oposto do espírito de diálogo que diz defender.
Flávia Berthier tem buscado se consolidar como liderança feminina conservadora no Maranhão, mas as contradições entre sua vida pública e privada, entre discurso e prática, começam a desgastar a imagem da vereadora. Resta saber até quando a retórica conseguirá esconder as incoerências. Afinal, coerência é um dos pilares da credibilidade — especialmente para quem prega valores tão rígidos.