A palavra “escola” tem origem etimológica no grego scholé, que significa “tempo livre” ou “lazer”. Na Grécia Antiga, scholé era o espaço reservado ao pensamento, ao diálogo, à filosofia — um templo sagrado de reflexão onde se cultivava o conhecimento e a liberdade intelectual. Ironicamente, no Brasil de hoje, a escola tornou-se o exato oposto de sua origem, o que temos é um ambiente de pressão, sofrimento e morte. O que deveria ser o templo da sabedoria transformou-se em local de exaustão, onde professores adoecem, são descartados ou tombam sob o peso de metas inatingíveis. O que está em jogo já não é apenas a desvalorização de professores e professoras, mas a dizimação lenta, cruel e silenciada de toda uma categoria
Na última semana, três professores morreram dentro das escolas. Três pontos distintos do Brasil, uma mesma causa comum: estresse, sobrecarga, cobrança por resultados. Silvaneide Andrade infartou em plena jornada após pressões por metas no Paraná. Luzia Maria de Hungria faleceu durante uma formação docente no Maranhão. Douglas Santos, professor de Biologia, foi encontrado sem vida na sala dos professores no Rio de Janeiro, exercendo não a sua função original, mas a de “articulador escolar”, um desvio cada vez mais frequente, onde o corpo do educador é arrastado para tarefas burocráticas que o consomem sem retorno.
Também no Maranhão, dois professores faleceram, vítimas do mesmo processo: o corpo cede ao que a alma já não aguenta. O discurso da meritocracia educacional, travestido de compromisso com a qualidade, cobra um preço alto demais – a vida.
É urgente perguntar: estamos educando ou apenas treinando? Desde 2007, as políticas públicas de ensino se fixaram na lógica dos indicadores, sobretudo o IDEB. Houve crescimento nas notas? Sim. Mas o índice de analfabetismo funcional praticamente não se moveu. O número de boas redações no Enem segue mínimo. A escola virou linha de montagem de dados, enquanto os sujeitos – professores e estudantes – são desumanizados em nome de gráficos que garantem verbas robustas.
Há algo de perverso nesse modelo. A professora Luzia estava numa formação voltada a “qualificar o trabalho docente e melhorar o IDEB”. A mesma lógica que pressionou Silvaneide. A mesma lógica que desviou Douglas da sala de aula. O resultado é claro: uma profissão se desfaz diante de nossos olhos, e o Brasil segue, como um país colonizado por metas, destruindo aqueles que ainda ousam ensinar.
Ensinar virou resistência. Mas até quando será possível resistir sem respirar?
Atualização
Após esta matéria ser finalizada, mais uma notícia chegou a nossa redação: a professora Rosane Maria Bobato, de 57 anos, faleceu dentro da sala de aula do Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, em Curitiba. Sentiu-se mal em serviço, chegou a ser socorrida, mas não resistiu. Seu corpo foi velado e sepultado no mesmo dia, conforme matéria do site “CGN”
A sequência de mortes não é coincidência. É sintoma. É grito. É colapso. Estamos enterrando, uma a uma, as sementes do pensamento, da formação crítica e do cuidado coletivo. Quantos ainda precisarão cair diante do quadro-negro para que o país olhe nos olhos da realidade? Fica a dúvida no ar…