Durante todo esta segunda (21), diversas figuras políticas do Maranhão usaram suas redes sociais para enaltecer Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, como herói da liberdade brasileira. Em cards ilustrados e frases de efeito, repetiu-se a ideia de que Tiradentes teria lutado pela independência do Brasil. No entanto, o que muitos esqueceram — ou talvez nunca souberam — é que o movimento que ele integrou, a Inconfidência Mineira, tinha um objetivo bem mais limitado: separar apenas a capitania de Minas Gerais de Portugal, como explica o historiador Evaldo Cabral de Mello em A Outra Independência (Companhia das Letras, 2017). Tiradentes não pensava no Brasil como nação unificada, mas sim em uma república mineira autônoma.
Essa leitura equivocada da história revela não só um problema crônico de desconhecimento, mas também o uso simbólico superficial de figuras históricas para ganho político.
Como destaca o professor João Paulo Pimenta, da USP, em O Brasil antes da Independência (Contexto, 2009), a ideia de um “Brasil” como pátria ainda não existia no século XVIII — o que existiam eram capitanias com identidades regionais distintas. Em 1789, inclusive, o território que hoje chamamos de Brasil era dividido em três estados coloniais: o Estado do Brasil, o Estado do Grão-Pará e Rio Negro e o Estado do Maranhão e Piauí. Falar em “liberdade do Brasil” naquele contexto é um anacronismo que ignora completamente a estrutura política da época.
Mais que uma gafe, a romantização da figura de Tiradentes sem o devido rigor histórico revela como parte da classe política maranhense trata a memória nacional como peça de marketing — o que deveria servir de alerta. A verdade é que Tiradentes foi um símbolo importante da resistência colonial, sim, mas seu projeto era regional, restrito e elitista. Distorcer isso em nome de um nacionalismo vazio é prestar um desserviço à educação e à história. Que se lembre de Tiradentes, mas com os pés no chão e os olhos nos livros.