Durante anos, o deputado estadual Edson Araújo (PSB) foi conhecido como uma das vozes mais ativas em defesa dos pescadores maranhenses. À frente da Federação das Colônias de Pescadores do Maranhão e ocupando mandatos sucessivos na Assembleia Legislativa, Edson não apenas construiu sua carreira política sobre a causa pesqueira, como também pavimentou o caminho para o filho, Wolmer de Azevedo Araújo, advogado e ex-deputado suplente, hoje secretário estadual da Pesca.
Mas sob o discurso em prol dos trabalhadores do mar, as investigações apontam para uma realidade muito menos altruísta: tanto pai quanto filho estão envolvidos em esquemas de desvio milionário de recursos públicos, com uso estratégico da estrutura associativa de pescadores e do aparato jurídico para benefício próprio.
Entre 2023 e 2024, Edson recebeu R$ 5,4 milhões de uma entidade hoje no centro de um escândalo de fraudes contra aposentados do INSS: a Federação das Colônias de Pescadores do Estado do Maranhão, presidida por ele próprio, e financiada com recursos da Confederação Brasileira dos Trabalhadores de Pesca e Aquicultura (CBPA), que, segundo a PF, arrecadou R$ 99 milhões por meio de descontos indevidos em aposentadorias de milhares de segurados.
O dinheiro teria sido movimentado sem respaldo da base de pescadores e com suspeita de ocultação de patrimônio. Em paralelo, Wolmer, o filho, também aparece como protagonista de um dos processos mais controversos da história recente da Justiça maranhense: um processo coletivo contra a Vale S.A., no qual defendeu 110 supostos pescadores e sacou mais de R$ 9 milhões, supostamente em nome deles, sem que os próprios beneficiários tivessem visto qualquer centavo.
As conexões são claras: o assessor de Wolmer no processo contra a Vale era um antigo funcionário de Edson na Assembleia Legislativa. E a mulher de Wolmer, Nívea Azevedo, operava diretamente os repasses das pensões, mesmo sem ser advogada. A Justiça Federal, o Ministério Público e o Coaf consideram as movimentações bancárias feitas pelos Araújo, nesse caso, como “atípicas, desconexas e suspeitas de apropriação indébita”.
O histórico mostra que, de forma coordenada, pai e filho utilizaram suas posições públicas para moldar decisões políticas e jurídicas, costurando acordos com aliados e capturando órgãos de representação coletiva para desviar recursos que deveriam beneficiar a categoria pesqueira.
“Eles transformaram a defesa dos pescadores em um negócio de família”, afirma um promotor ouvido pela reportagem sob anonimato. A situação de ambos ainda está sob investigação, com o caso do INSS no TRF-1 e os desdobramentos do caso Vale aguardando julgamento no STJ.