Entre jujubas e ofensas: a violência contra mulheres no poder

“Toda opressão cria um estado de guerra. E esta não é exceção.” A frase de Simone de Beauvoir, escrita há mais de sete décadas, atravessa o tempo com a nitidez de quem entende que a violência de gênero não é apenas um drama individual, mas uma engrenagem social, uma guerra silenciosa sustentada por instituições, símbolos e silêncios. Sua advertência ressoa com força perturbadora nos corredores do poder maranhense.

Em pleno 2025, testemunhamos dois episódios distintos, mas visceralmente conectados por uma mesma raiz: a violência de gênero como linguagem autorizada no espaço político.

No primeiro, vereadoras de Paço do Lumiar relataram mal-estar após consumir jujubas supostamente contaminadas durante uma confraternização com colegas parlamentares — entre eles, o próprio presidente da Câmara, Fernando Feitosa. No segundo, a deputada estadual Mical Damasceno denunciou o vice-governador do Estado por ofensas misóginas e ataques pessoais revelados em mensagens que já estão sob laudo pericial. Duas cenas, dois espaços institucionais distintos, mas a mesma lógica: transformar a presença da mulher na política em algo a ser sabotado, agredido ou neutralizado.

A filósofa existencialista nos ensinou que a dominação do feminino se perpetua não apenas pela força bruta, mas por sistemas simbólicos e institucionais que a legitimam. E é justamente o que se vê quando o poder público responde com silêncio, ironia ou adiamento diante de episódios tão graves. Não se trata aqui de defender um nome ou um partido, mas de enfrentar o risco real de que a violência contra mulheres, física ou simbólica, vire lugar comum no ambiente político maranhense.

As jujubas de Paço do Lumiar e as mensagens reveladas na Assembleia não são casos isolados, mas sintomas de um corpo político adoecido por machismo, omissão e cumplicidade. Se o Maranhão falhar em investigar, responsabilizar e punir exemplarmente esses atos, estará institucionalizando o envenenamento moral da política — e condenando todas as mulheres que ousarem ocupar cargos públicos à condição de alvos.

É preciso repetir o óbvio: nenhum mandato, nenhuma função, nenhum título institucional autoriza a violência. A política que se cala diante do abuso se torna cúmplice dele. A democracia que normaliza a humilhação de mulheres se transforma em farsa. A crítica de hoje, portanto, não é apenas um exercício de análise — é um clamor ético. Que se investigue. Que se puna. Que se interrompa, antes que seja tarde, a naturalização da barbárie.

Alex filósofo

O jornalista Alex Filósofo (DRT: 2255/MA), professor e apaixonado pela Filosofia, também é empreendedor, blogueiro e graduando em Marketing Digital. Além disso, se destaca como ativista social e cultural. Sua formação intelectual, influenciada pelos pensamentos de grandes nomes da filosofia e da política, resulta em uma crítica sempre desafiadora e esclarecedora.

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